A Quaresma é um tempo dedicado à preparação da Páscoa. Desde o século IV manifesta-se a tendência para a apresentar como tempo de penitência e de renovação para toda a Igreja, com a prática do jejum e da abstinência. “Todos os anos, pelos quarenta dias da Grande Quaresma, a Igreja une-se ao mistério de Jesus no deserto”(Catecismo da Igreja Católica, 540). Ao propor aos seus fiéis o exemplo de Cristo que se retira para o deserto, prepara-se para a celebração das solenidades pascais, com a purificação do coração, uma prática da vida cristã e uma atitude penitencial.
Para tratar sobre o assunto, o portal da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) conversou com o bispo de Tubarão (SC) e presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB. Dom João Francisco Salm afirmou que o verdadeiro jejum, aquele que Jesus espera de nós, é aquela prática que manifesta a nossa volta para Deus e para os irmãos e irmãs: “Depois do Batismo, não para de ressoar, em nossas vidas, o apelo de Cristo: “Convertei-vos!”. A conversão é a volta sincera ao amor misericordioso de Deus, que nos amou primeiro”, disse o bispo.
Dom Salm lembra que na vida de São Pedro, depois de ter negado três vezes o Mestre, o olhar de Jesus, cheio de misericórdia, provoca lágrimas de arrependimento. “Santo Ambrósio falando da conversão no Batismo, e da conversão que perdura pela vida a fora, diz que, na Igreja, existem a água e as lágrimas: a água do Batismo e as lágrimas da Penitência”, diz.
Segundo dom Salm, o apelo de Jesus, à conversão, tem em vista, antes de tudo, a conversão do coração e a penitência interior. “A Bíblia e os Santos Padres insistem principalmente em três formas de penitência: o jejum, a oração e a esmola ou partilha fraterna”, salienta.
O bispo explica que jejum, enquanto penitência, é um tipo de privação voluntária que contribui para nos fazer adquirir o domínio sobre nossos instintos e a liberdade interior: “Junto com a oração e a atenção aos pobres, o jejum expressa diante de Deus a humildade, a esperança e o amor ao próximo”.
Dom Salm salienta, ainda, que o verdadeiro jejum é inseparável tanto da esmola como da oração: “É por amor a Deus que se deve jejuar. Por isso, Jesus recomenda fazê-lo de forma discreta”.
Portanto, em casa, nesses dias de quarentena, em grande ação solidária para o bem de todos, o bispo diz que o jejum que agrada a Deus é aquele que nos faz abrir mão de gostos, de satisfações e até de direitos pessoais para favorecer a caridade, o amor verdadeiro, a fraternidade. “Quem jejua deve fazê-lo atento aos que estão necessitados de atenção, de alimentos ou de qualquer outra ajuda e repartir com eles. Quem está decidido a amar, saberá praticar o jejum verdadeiro, porque o amor é criativo”, finalizou.
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